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sábado, 15 de abril de 2023

Hiflosigkeit








Bem ao fundo, onde você se funda

Nas bases íntimas do seu eu,

Naquela noite eterna e cintilada de estrelas por detrás das suas pálpebras

Lá, na escuridão púrpura, pontilhada por luzes distantes, 

Nas raízes primárias de onde voce ergueu;

 

Esse sorriso fácil, mentiroso e gentil,

E esse sarcasmo 

E esse senso de humor duvidoso…

E essa formalidade elegante com a qual despacha, preenche certidões e mandados…

E essa afetação educada nos cumprimentos a toda a gente…

E esse olhar astuto a negociar preços e taxas menores de juros…

E esse ar preocupado e solene ao ler as notícias dos desvairos do mundo…

E esse suspiro sonhador e perdido ao se deliciar por manter para si um segredo doce…

E esse aborrecimento tardio ao descobrir aqui e ali sinais de selinidade…

E essa vaidade tola pela adulação ao suposto da sua erudição…

E a eterna postergação para tomar decisões perfeitamente adiáveis…



Abaixo, dentro e por detrás de tudo isso;



Que há nos recônditos interiores de si, meu pobre Luiz, criatura confusa e erma de si mesma?

Há um herege blasfemando sacrilégios para o nada ?

Um crente fiel e fervoroso a oferecer culto e súplicas às estrelas?

Um monge? Um louco?

No seu interior há um menino perdido e desamparado a clamar pelo pai?

Há um romântico abandonado chorando eternamente a perda da alma amada?

Há uma fera raivosa e sedenta a uivar sua fúria para a lua?

Ou uma ave canora e cantante a entoar louvores ao sol?



No fundo e no fim, é tão somente um poeta do desamparo, 

Teimosamente  forjando no fogo brilhante do que é belo a luz do dia

Odes e trovas sobre sussurros noturnos, 

Sobre temas falados nas sombras por onde se esgueiram duendes e sonhos ruins.

E enquanto a vida corre, o dia arde, o verde toma conta da paisagem, 

Você espera pelo cair da noite para se sentir pleno…

Colhendo bouquets de espinhos em jardins floridos…

Alguem lhe nomeou embaixador e porta voz da dor?

Ou lhe designou arauto a falar pelo silêncio?

Ou é simplesmente uma inclinação natural e, portanto, bela, à escuridão?



Mas olha; enquanto voce passa a salada para a pessoa ao lado

E comenta desinteressado sobre o tempo com a pessoa da frente

e se distrai com uma brisa no rosto, súbita e ignorada por todos os convivas

O relógio do tempo ainda corre na mesma direção

E o dia se sucede a noite bem como a noite ao dia.

A marcha da vida não se interrompe,

Enquanto voce oculta a alma atrás do crachá, do número do RG 

E se pergunta se o sapato combina com o cinto…




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