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domingo, 22 de maio de 2011

Escrever ou Calar




Escrever é uma  aventura para a qual cada vez menos me falta coragem (leia-se entusiasmo). Prefiro cada vez mais deslizar pelos pensamentos de outros e  calar a voz da minha duvida nas certezas agudas que as pessoas parecem ter em tudo, mesmo não podendo compartilhar de tais certezas. Isso me parece altamente sintomático...Quando eu escrevia para os outros, até que me virava bem, porque aí eu estava comprometido com o que iam pensar aqueles que me lessem e rebuscava um parágrafo, trocava um verbo, esmerava-me na retórica para que o discurso ficasse bom de ser lido, para que as pessoas pudessem com algum esforço auferir um prazer objetivo em ler-me como uma justa paga ao prazer subjetivo que eu tenho em lê-las.
 Lembro de Lispector dizendo como se sentia livre por não ser uma escritora profissional e experimento uma sensação de acides no espírito, porque agora que encasquetei de escrever para mim ( mesmo que seja para, como freqüentemente acontece, voltar a estes escritos depois de algum tempo e pensar “meu deus! Onde eu estava com a cabeça quando escrevi isso!?”), experimento o oposto embora eu nunca tenha tido a pretensão de ser  um “escritor” ainda mais profissional. Mas  me ocorre que estou sentindo uma obrigação inquietante não mais para com a forma, mas para com o conteúdo do que escrevo aqui. Sempre me pego na metade de um parágrafo paralisado, inerte pela súbita constatação de que não sei do que estou digitando. Sabia quando iniciei, mas agora fiquei na dúvida.  Talvez seja por fim um progresso na evolução do meu pensamento ou talvez um retrocesso, porque aquilo que levava meses ou anos para me despertar uma suspeita de inautenticidade intelectual, agora se me apresenta imediatamente após eu ter formulado um pensamento.
E eu poderia parar este mesmo post por aqui mesmo, em conformidade com esse meu constante estado de percepção da minha ignorância (que nada tem a ver com a famosa ignorância socrática. Não é uma ignorância ad valorem, mas de facto.), mas aí me sinto confortável, porque se tem uma coisa da qual estou certo, portanto habilitado para falar honestamente, é da minha ignorância.  Acontece que quando começa-se a questionar os motivos que influenciaram toda a sua educação cultural, os motivos reais por detrás da retórica vazia do ideal, percebe-se que a vida se parece em muito com um cenário mal feito de uma peça em que todos tem o seu papel  e mesmo desconfortáveis acabam cumprindo-os.  Então, despossuindo-me da autoridade de falar como alguém que sabe, conto com a indulgencia daqueles que me honram com sua visita, se eu soar por vezes ambíguo e levantar mais duvidas do que fazer afirmações. É apenas a minha maneira de ser honesto intelectualmente, uma busca por coesão de pensamentos. Isso é a minha vocação de agente do caos...
 Devíamos mesmo processar a Disney  e Holiwood por “estelionato ideológico-emocional”. Eu me empenharia nisso e caso alguém aí quiser entrar como litisconsórcio comigo, mande-me um email. Haveremos de fazer barulho e arrancar alguns dólares de Mickey e Cia, por terem ao longo de uma vida inteira nos iludido com um “ e viveram felizes para sempre, que não encontramos nunca num correspondente do mundo real. Mas claro, posso estar errado nisso também e falando movido unicamente por um momento em que todas as coisas pelas quais nos esfolamos parecem encolher e mirrar em importância...

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