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segunda-feira, 18 de março de 2013

Um sonho entrópico



Foi um sonho do qual não tenho certeza de que despertei  e de idêntico modo, não estou certo de que tenha dormido para o sonhar.

Sonhei que eu era Deus.

Fiz o universo em seis dias e vi que era bom o que tinha feito.
No sétimo fui dormir e acordei na manhã do oitavo dia com um  excelente bom humor. Me espreguicei, e foi então que pensei: “É hora de trazer o Armagedom!”

Então desci a terra e fui buscar o homem mais santo do mundo.
Por acaso era um corretor de Wall Street e quando o arrebatei, ele sorriu surpreso e desapareceu, porque eu o absorvi de volta a mim. Depois fui buscar os outros santos. Religiosos de todo tipo, monges, filósofos, sábios, loucos...Recolhi todos os tipos de santidade que encontrei na terra. Olhava-os nos olhos, sorria e os trazia de volta a mim, absorvendo a totalidade do que eram e eles desapareciam surpresos como o primeiro, porque junto com eles, busquei todos os outros da terra. Os virtuosos e os canalhas, os éticos e os facínoras, os assassinos, as vítimas, os maus e os bons, os puros e os perversos... Todos os homens, todas as mulheres, crianças, velhos e jovens e os fieis junto com os incrédulos... 

Arrebatei a todos de volta a mim. Todos sem exceção e eles desapareceram, imersos na minha consciência.

Daí fui desmontar em um dia o que levei seis para fazer. Absorvi de volta tudo em que respirei vida. As plantas e sua seiva macia, os mínimos micróbios e os grandes monstros, cachorros com suas pulgas, pássaros em voo, peixes no mar e nos aquários, animais selvagens e domésticos e cada folha de grama e cada flor e fibra do campo, o joio junto com o trigo e cada vida escondida nos remotos da terra.

Desci mais  um pouco, e retirei a força das pedras e a consciência profunda das rochas e o calor furioso do magma. Extingui meus vulcões e suguei os oceanos de muitas águas.

E então desci ao inferno e apaguei também os seus fogos e comecei a absorver todas as almas perdidas que ali penavam. O diabo, é claro, protestou veementemente contra o que considerou uma “ingerência” em seus negócios,  mas não por muito tempo, porque o absorvi também, mesmo em protesto. 
Encrenqueiro, burocrata e rebelde até no fim...

Repeti o processo em todos os mundos, em todos os planetas do universo e então, uma a uma fui apagar minhas estrelas e nebulosas. Tirei o tampão da pia do universo e tudo redemoinhou de volta para mim. E tudo parecia surpreso e tudo parecia atordoado quando me olhou nos olhos pela primeira e ultima vez.

E depois, naquele espaço escuro sem trevas, retirei meus anjos,arcanjos e querubins das prateleiras e eles vieram em fila para que eu os absorvesse de volta a mim, um após outro.

Logo, restei apenas eu e os meus avatares e personificações dadas pelos homens. Então absorvi de volta a estes meus eus:  Shiva e Baal, Mitra e Heimmdall, Ogum e Anúbis, Epona, itzamna e Astorete...
E muito outros. Deu trabalho! Mas finalmente havia acabado.

Sem mais multiplicidade... Sem mais incompletude...
Apenas uma infinita calma e por fim, comecei a absorver a mim mesmo e a apagar a minha consciência  em espiral para dentro. Fui para a longa noite.

Eu disse: Faça-se o silêncio.
E houve silêncio
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