Talvez no fim, não seja
grande coisa meu corpo estar aquecido sob edredons em quarto confortável, se
minha alma está enregelada debaixo de uma ponte.
Oh, que pensamento trágico
e gracioso...
Queria ter um verso
adequado para rimar com ele e então eu teria poesia e não um exercício fútil de
melodrama...
Mas a manhã está boa para
pensamentos trágicos e graciosos e me apetece acrescentar mais uma pedra
ao edifício das minhas aspirações natimortas...
Pensar a vida como uma
sucessão de situações venturosas equivale a lançar minha autoestima cambaleante
para uma sarjeta qualquer.
Ontem, e antes disso, num
tempo que já não levo na consciência, dei-me conta final e tardiamente não
entendo em absoluto a dinâmica da vida cotidiana dos semi-deuses que me cercam.
O mistério das relações
nesse teatro de bonecos que se chama humanidade (e se Deus é o titereiro
supremo ou mais um boneco nas mãos dos bonecos, não sei dizer), não é menos
esotérico do que o elixir da vida ou do que a pedra filosofal.
Mas tampouco se
pode ser realmente humano sem complicar mais as já complicadas relações.
Ou talvez isso tudo seja
apenas fruto de uma má disposição do espírito hoje e semana que vem e no ano
passado ou a negação de ter um espírito que vá ter disposição para mais do que
se desesperar diante do absurdo.
Talvez seja o nada
engolindo novamente o tudo.
E eu, que nada sei sobre
nada do que sei, sei que manter elevadas expectativas de mim mesmo, desejando ser
moralmente belo e virtuoso, far-me-á ter ódio de mim mesmo por não conseguir
jamais viver a altura desses céus onde miro minha ambição por ser.
São essas aspirações que
cedo ou tarde me farão acabar com os pulsos sangrando em algum canto escuro ou
pendurado numa corda, embora eu prefira pensar que ainda teria forças para
fugir para o vazio de modo menos drástico e mais digno.
Nem vou pensar demais
nisso, porque a essas alturas, seria uma tragédia se eu me descobrisse súbita e
abjetamente religioso.
Deus me livre e me dê
antes uma morte honrada!
Mais pensamentos trágicos
e graciosos..
Já então, não me podem
seduzir ou amedrontar as ameaças do céu e do inferno e estou mais ou menos
entregue ao mesmo princípio de caos que orienta o mundo, tanto quanto qualquer
um, mas ciente de que estou perdido e de que preciso me orientar.
O caminho do bem não é a
minha vereda.
O caminho do mal não é
chão onde ponha eu os meus pés trôpegos.
Tenho de me equilibrar
sobre a linha fina sobre o abismo, enquanto de ambos os lados, voam pedras
sobre mim e urram ventos querendo me derrubar.
Não, este não é
definitivamente o meu momento de maior inspiração.
E o que é que pode
inspirar o nada?
Nem é o tédio a corroer as
minhas horas, mas o desejo de silêncio que vem da certeza de que lá na outra
ponta do divã, dormita o analista e eu falo para os meus próprios ouvidos
surdos.
"Não me diga que eu sou melhor morto, porque o Céu está cheio, e o Inferno não vai me aceitar. Faz pra mim espaço na sua cama."
ResponderExcluirSabe, Luiz, eu tenho uma cabeça que entende a sua, e vice versa. Mas se eu puder ousar com esse palpite (que em nenhum momento será relevante!), eu diria que quase sempre essa vontade de desistir é medo do mundo, porque o conforto presente está mais ao alcance que a mudança necessária pra te saciar a auto exigência. Além do que, o drama é tão irresistível.
Mas eu sei sim que é mais poesia que todo o resto, e muito detalhada, muito esforçada no vocabulário e, principalmente, muito sua.
Até.
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