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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Cartas de Lugar Nenhum




Eu...
Não sei quanto tempo se passou ou quanto tempo estive a olhar por aquela porta as distâncias infinitas desses horizontes atras de horizontes até que por fim tive consciência de estar consciente e de estar olhando por ela.
Creio que eu pensei ser eu próprio a abertura e o horizonte lilás emoldurado por ela. Se é que eu estava pensando qualquer coisa. 

Quando se está por tempo demais a fazer uma coisa, torna-se a coisa por excelência e eu fui uma porta aberta para as grandes distâncias até que comecei a perceber que percebia.

Mas o fato é que estive a olhar por uma porta, porta esta que está na parede dessa cabana na qual está a mesa, na qual está o livro no qual nesse momento escrevo.

Escrevo a você, embora eu saiba que provavelmente nunca vá ler isso.
Tampouco é carta que eu possa assinar, pois o inusitado dessa situação é que eu não sei quem é você a quem escrevo e tampouco sei quem sou eu, este que te escreve.

Todas as histórias talvez comecem com uma frase redundante, então há de me perdoar se começo do começo, relatando o momento em que deixei de olhar a porta aberta e as montanhas depois dela e me pus a examinar o ambiente a minha volta, surpreso em que houvesse eu a volta do qual havia ambiente a observar.

Como eu disse, estou em uma cabana simples, um cômodo grande com pouca mobília:
Uma cama sobre a qual há colcha e travesseiro, uma mesa tendo por cima uma moringa de barro com água, um tipo de pão de frutas e um queijo qualquer gorduroso e odorífero.

Ha também uma cadeira dura de encosto baixo e janelas de ambos os lados da cabana.
Ela própria é feita de madeira e adobes e embora seja limpa e confortável, tem ar bolorento, como se fosse casa antiga e por muito tempo inabitada.

Não faço ideia de como cheguei aqui e de quem eu sou ou fui.
Mas certamente sou ou fui alguém e certamente cheguei aqui de algum modo e ao pegar esse livro para escrever a carta que nunca enviarei, comecei a me sentir um pouco mais seguro, pois é certo que a medida que o lápis corre por esse papel branco vou desenhando a mim mesmo junto com essa história...

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