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quarta-feira, 1 de março de 2023

Ouroboros - Ou da Dinâmica Entres os Que Sonham


 

Na obscuridade das minhas linhas, em sono descuidado, sonhei que você me sonhava,
E foi dessa forma, que comecei a duvidar da certeza da minha inexistência,
Que eu era aquela ficção contada por mim mesmo ao nada, que respondia em eco com a minha voz,
Nas horas voláteis, no vazio dos dias entre o horário do almoço, o sono do divã e a sessão das dez.

Se você existia, era suposto que eu também haveria de ser o sonho sonhado por outro sonhador.
Tal qual o sonhei primeiro em dias muito antigos.
E então me pareceu haverem flores brotando em um abandonado jardim do eu,
Uma primavera implacável rompendo em verde no cinza dos meus outonos da alma.
(E se meus dedos inábeis pudessem ao piano acompanhar as batidas rítmicas do meus desejos, ao criar possibilidades onde antes nem vazio havia,
Eu faria uma música de inefável beleza que levaria o seu nome).


De alguma forma, sinto que seu nome soa como o retinir de pequenos sinos a badalar dentro de uma fantasia.
Talvez voce tenha nome de flor, de pedra preciosa que seja ou talvez quisera o amor ou a fé de seus pais dar-lhe o nome de uma rainha antiga ou o de um profeta
(E, deus!, em meu devaneio, vejo-o precioso, mas não como pedra, perfumado como uma flor reluzente, e, talvez você seja mesmo uma rainha no império do coração de alguém ou profeta incompreendido e rejeitado por seu próprio povo).


Retiro os olhos desse livro onde o crio e o sonho em letras, as tuas formas lindas e desconhecidas tomando corpo no destino de tudo o que posso desejar, 

E ainda mais sonhador olho para as direções à volta do meu cárcere suave, mas então perco-o de vista, pois sinto-o mais vivamente nestas linhas em que escrevo ha anos uma carta de amor e que você existe em um ponto cardinal que levo dentro da minha mente.


Observo escritos passados, na gaveta fechada a chave e vergonhas.
Desinvestidos dos sentimentos que lhes deram forma, parecem-me a soma de todos os olhares estrangeiros onde reconheci os teus olhos de passagem.


Penso em tudo o que eu pensava quando não estava pensando em você e me surpreendo a te ver delineado em todos aqueles pensamentos.


 
 


5 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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    1. Milena... Nem sei como me desculpar. Eu cliquei para responder ao seu comentário, mas acabei clicando em excluir por engano. Se puder, releve o meu gesto desajeitado (sou quase um idoso, criança e não estou habituado ainda a estes teclado e mouse delicados do notebook. kkkkk) Caso volte a este espaço, por favor repita seu comentário ou dexe outro, mas saiba que é bem vinda.

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  2. É uma coisa impressionante a beleza que se pode produzir com palavras... eu poderia morar em textos assim.... Acordada, porém sonhando.

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  3. Pandora, minha amiga. Que os bons ventos que lhe trazem aqui ha tantos anos continuem a soprar, É sempre uma felicidade entrar no blogger e ver uma interação sua com o caos das minhas linhas. Quantos anos nos conhecemos? 15 anos!!! Estamos debutando, minha cara! Que bom que ainda estamos por aqui.

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  4. Sahge, eu estava só comentando como é bom ver você inspirado. Andava sumido e agora aparece pra nos emocionar com textos lindos. Parabéns, querido!

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